segunda-feira, 7 de junho de 2010

"Era uma vez"

Era uma vez uma vez que era e já não é.
A cada vez que pega na pena as palavras choram,
são dor, são traumas, são crises e pseudo-crises, são atrizes a se agitarem numa pantomima frenética
de vermelhos, lilases e também laranjas, ávidas por serem vistas neste vasto palco branco,
são um auto-retrato sem luz, são uma ambição cega e ingênua.
Era uma vez uma vez que era e já não é mais
e que embora tenha sido permanece presente sem o ser,
presente de grego como aquele cavalo de Tróia, que serve de metáfora emocional para esta triste pena desesperada desenhar neste papel o esboço estilístico desse "seja lá o que for". "Era uma vez" não parece bom para começar "seja lá o que for" mas não me importo, nunca me reduzi as aparências e apesar de essa tentativa de dar uma oportunidade a esse cliché clássico ser um fracasso, não vou desistir, seguirei adiante com essa humilhação sem tentar fantasiá-la ou justificá-la, afinal não tenho nada melhor com que possa começar um bom texto e "era uma vez" desfila em cada neurónio desta cabeça, porque "era uma vez" leva uma suposta genialidade ao nível rasteiro de... "Era uma vez".
E as palavras ficam vazias como uma folha em branco, promissoras mas pálidas. Ah, como a minha pena sofre e sangra. E não há nada que se possa fazer.

Um comentário:

Simão Miranda disse...

Tem ares de Chico Buarque (que por acaso, gosto muito).
Poemas de desconstrução.
Gostei