sábado, 16 de janeiro de 2010

Variações tic-tac

Acordo subitamente na noite,

E o meu relógio, tic-tac,
ocupa toda a noite,
Abafa a existência de tudo e de nada...
Silêncio e tic-tac,
quase que me perco a ouvir o meu relógio!
e sinto me a sorrir na noite com os cantos da boca
porque a única cousa que o meu tic-tac simboliza,
enchendo com a sua pequenez a noite enorme,
é a curiosa sensação de encher a noite enorme,
Maior que o tempo,
Mais escura que a solidão.
E esta sensação, é curiosa a sensação
Do tic tac do relógio,
Constante, constante,
Ela nao enche a noite enorme
Sucumbe com a sua pequenez.

Vinícius de Castro
A partir de Alberto Caeiro
in poemas inconjuntos

5 comentários:

Ruben Loup Chama disse...

Já fiz chegar a minha opinião sobre este texto. Acho que está genialmente doce e simples. Lê-se de um jacto, flúi, com a cadência certa de um tic-tac e por aí se viaja, desde a boca sorridente, pela noite, até caírmos em nós, de sós que nos encontramos. Gostei.Muito.
Continuem ;)

Simão Miranda disse...

Está particularmente bom, com o mérito ainda de ter sido escrito por duas pessoas!
Vejo o tic-tac como solidão. Será possível? Enche a noite mas ao mesmo tempo é destruído pela sua grandeza.
Bravo

Gaius disse...

Bem, eu vos peço desculpas pelo incoveniente. Era bom demais escrevermos tão bem!

Ruben Loup Chama disse...

Lol! Ao menos sabemos reconhecer genialidade!

Gaius disse...

Ao menos isso!! E que vergonha de ter modificado um poema do Alberto Caeiro... Até parece prepotência... Que horror!!